Almir Pernambuquinho: o maior encrenqueiro da história do futebol brasileiro

Almir Pernambuquinho: o maior encrenqueiro da história do futebol brasileiro

Texto de Joel Paviotti – Pagina do Nortão

Foto – Divulgação

Almir Morais de Albuquerque, o lendário Almir Pernambuquinho, nasceu no Recife, Pernambuco, e desde cedo mostrou que não seria um jogador comum. Começou sua trajetória no Sport Club do Recife, mas logo chamou a atenção do Vasco da Gama, clube onde começaria a construir sua fama tanto pela bola quanto pelas confusões.

De temperamento explosivo, não levava desaforo para casa. Almir se dizia apaixonado por brigas e encontrou no futebol o palco ideal para sua personalidade intempestiva. Tinha talento de sobra: no Vasco, recebeu o apelido de “Pelé Branco”, e ganhou o coração da torcida ao recusar uma convocação para a Seleção Brasileira para seguir em uma turnê internacional com o clube — uma decisão impensável na época.

Sua carreira foi marcada por momentos de brilho e inúmeras polêmicas. Em 1959, durante uma partida entre Brasil e Uruguai, Almir foi protagonista da maior briga generalizada da história do futebol sul-americano. Após uma sequência de provocações e entradas violentas, ele não se conteve: após uma falta em Leiva, partiu para cima dos uruguaios com socos, desencadeando uma pancadaria generalizada que envolveu cerca de 50 pessoas. Até Leônidas da Silva, que estava como comentarista de rádio, desceu ao gramado para tentar conter os ânimos.

O narrador Fiori Gillioti chegou a dizer que Almir gostava mais de briga do que de marcar gols. E ele confirmou: “É verdade, mas nunca deixei um amigo sozinho em uma briga.”

Nos anos 60, Almir passou por grandes clubes como Corinthians, Boca Juniors, Genoa, Fiorentina, Santos e Flamengo. No Corinthians, novamente foi apelidado de “Pelé Branco”, mas sua permanência foi breve devido a expulsões constantes e uma contusão séria. No Boca, enfrentou o Campeonato Argentino — um dos mais violentos do mundo na época — com a coragem de sempre. Em um jogo contra o Chacarita, foi expulso e, antes de sair, ainda distribuiu socos em três adversários. A torcida foi ao delírio.

No Santos, viveu um dos momentos mais marcantes da carreira. Em 1963, substituiu Pelé na final do Mundial contra o Milan. Sofreu o pênalti que deu a vitória ao Peixe após levar uma voadora na cabeça de Maldini — e, surpreendentemente, não revidou. Questionado sobre seu comportamento “calmo”, respondeu em uma entrevista:

“Entrei em campo muito doido. Por que eu não ia querer (usar a droga)? O bicho pela conquista do campeonato era 2.000 cruzeiros: dava pra comprar um Volkswagen zerinho. Nós entramos em campo vendo o automóvel ao alcance da mão. Do outro lado estavam os caras que podiam impedir isso.”

Na reta final da carreira, jogou no Flamengo, onde também protagonizou novas confusões. Em uma final contra o Bangu, após provocações dos adversários e a presença imponente do bicheiro Castor de Andrade, Almir liderou uma briga generalizada que levou à expulsão de nove jogadores e ao encerramento da partida antes do fim.

Pequeno, forte e destemido, Almir não buscava ser ídolo. Como ele mesmo dizia, preferia ser leal aos seus princípios — fosse em campo ou nas ruas. Mas a vida fora dos gramados foi dura. O alcoolismo e a vida boêmia o levaram a um envelhecimento precoce e à decadência financeira.

Almir deixou o futebol profissional em 1968, vestindo a camisa do América. Cinco anos depois, encontrou a morte de forma trágica, em uma cena que parecia tirada de um filme.

Era uma noite quente de 1973, em Copacabana. Almir tomava uma dose em um bar quando presenciou um grupo de portugueses zombando e ofendendo de forma homofóbica artistas de uma trupe de teatro, ainda maquiados. Indignado, levantou-se e enfrentou os agressores. A discussão virou briga, e no meio da Avenida Atlântica, um dos homens sacou um revólver calibre 32 e disparou. O tiro atingiu a cabeça de Almir, que caiu ali mesmo, tentando defender quem estava sendo humilhado. Morria, naquela noite, um dos personagens mais controversos, valentes e marcantes da história do futebol brasileiro.


Um ídolo improvável, mas inesquecível

Almir Pernambuquinho não viveu para ser exemplo de disciplina. Mas foi, sim, um símbolo de coragem, de autenticidade, e da alma rebelde que habita o futebol brasileiro. Um jogador que jamais se escondeu atrás das convenções. Amado por uns, odiado por outros — mas ignorado por ninguém. Onde havia confusão, havia Almir. E onde ele jogou, deixou sua marca.

Texto de Joel Paviotti – Pagina do Nortão

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